sábado, 23 de março de 2019

Sermão Domingo 20 Janeiro 2019 Batizado Caio

Culto do 2º Domingo depois da Epifania – 20/1/2019 
Catedral da Ressurreição – Diocese Anglicana de Brasília 
Paulo Ueti. 


Ezequiel 36:25a, 26-28; Salmo 40:1-11; João 2:1-11



Hoje é um dia mais especial do que outros dias para nossa comunidade. Vamos juntas celebrar o reconhecimento de que Caio, junto com sua família, a consanguínea e a estendida, são membros plenos dessa outra família que é a igreja. E não falo da Igreja Anglicana somente, mas a igreja de Cristo, espalhada pelo mundo em suas mais diversas expressões. Vocês têm uma família mundial agora. Certamente em nossa família anglicana, onde forem e afirmarem sua pertença a esta particular comunidade vocês terão acolhida. 

É claro que esse passo que vocês dão vem com responsabilidades. De vocês para com a comunidade e do restante da comunidade para com vocês, especialmente para com o Caio que hoje tem seu dia mais especial que outros dias. Essa celebração, reconhecimento público de algo que já existe na verdade, nos entrelaça profundamente. Todas nós, pessoas dessa comunidade, nos tornamos publicamente responsáveis pela vida e educação do Caio. Mesmo se algum dia a família se desligar ou afastar-se por algum motivo de nosso convívio, nós ainda continuamos com o dever espiritual de nos preocupar com o Caio. 

O Batismo, reconhecimento visível da graça abundante de Deus, é um mergulho. A palavra mesmo “Batizar” significa em línguas antigas “mergulhar”, “imergir”, “envolver-se”. E o Caio, como todas nós fomos, vai ser batizado, mergulhado na Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). É o convite para uma vida de partilha, de cuidado consigo e com as outras pessoas, de cuidado com o planeta onde vide, de exercício de empatia e solidariedade, de indignação pela injustiça no mundo. Mas isso ele vai ter que aprender. A família consanguínea, a família estendida (especialmente o padrinho e a madrinha) e a nossa comunidade tem responsabilidade com isso. Nós vamos ensinar que por favor e obrigado são obrigatórios, vamos ensinar que racismo, homofobia, sexismo e violência não são maneiras de resolver os problemas da vida. Vamos ensinar que meritocracia é a palavra e a ideologia usada para manter pessoas privilegiadas com mais privilégios. Vamos ensinar que dividir a água, o lanche, a comida, o abraço e o seu tempo é absolutamente importante para que todo mundo seja feliz. Nossa comunidade vai ajudar a cuidar do Caio (e de todas as outras pessoas, crianças ou não) que precisam de mais atenção durante o nosso culto e cafezinho e outros momentos de encontro e não simplesmente deixar que a mãe ou pai ou parente o faça. 

Os textos da nossa liturgia de hoje são impactantes em conteúdo e espiritualidade. Deus nos dá um espirito novo, quem se abre para a vida comunitária muda o jeito de ver a vida, o jeito de ver as outras pessoas, o jeito de ver a si mesma. A gente muda e ajuda outras pessoas a mudarem. Deus nos borrifará com água e isso nos fará menos doentes, menos racistas, mais empáticos com os nossos sofrimentos e com os sofrimentos de outras pessoas, mais indignados com a injustiça e mais comprometidos em superá-la. Porque Deus, e nós a comunidade reunida somos a sua expressão, está com vocês para anunciar a justiça e para fazer as pessoas e o mundo melhores, para continuar expressando que a compaixão muda o mundo, não a violência ou punição. 
Também a liturgia de hoje nos leva para uma festa. É uma festa de casamento. É uma festa, celebração da unidade, do consenso, da insistência em permanecer juntas/os. Mas o narrador conta que o vinho acabou. Como continuar a festa sem vinho. E foi Maria que notou e publicou a falta. Ela devia gostar muito de vinho, ou era uma das responsáveis de cerimoniar a festa ou simplesmente era inxerida mesmo. Vai saber. De qualquer maneira ela é o modelo de cuidado para que a felicidade continue, para que a festa siga, para que a convivência na comunidade não seja prejudicada pela falta de algo. Ela percebe. Ela toma liderança. Ela avisa. Ela toma uma atitude: avisa a Jesus que o relógio dele está atrasado, quando ele disse que “a hora” não havia chegado, bem como ordena aos diáconos que o obedeçam. Ela é o modelo que nós devemos seguir para que a comunidade permaneça junta, alegre e em festa. O Caio vai oficialmente ser reconhecido como membro dessa comunidade. Que comunidade queremos ser para ele e sua família? Que comunidade queremos ser para nossas famílias e nós mesmos? Que comunidade queremos ser para o mundo? 

Em tempos onde armas de fogo serão permitidas com mais facilidade, em tempos de descaso pelas pessoas mais vulneráveis no Brasil, em tempos de negociatas com nossas florestas e recursos naturais, o Evangelho nos convoca para prestarmos atenção no que falta para sermos felizes e tomar uma atitude, para que o Caio e tantas outras crianças aqui e acolá tenham uma sociedade mais segura e mais feliz para viver e progredir. 

Hoje nós, junto com o Caio e família, renovamos nossas promessas batismais. Isso significa que renovamos nosso compromisso com Deus e umas com as outras. Apesar, ou quem sabe por causa, das nossas diferenças e divergências de opinião e de projetos na vida, somos um sacramento do Cristo no mundo, para nós mesmos e para as crianças como o Caio. 

Quero convidar vocês para dizer uma palavra para a família do Caio. Quando ele crescer mais um pouquinho o Pedro e Bruna, o Caio e a Laura vão contar pra ele o que nós desejamos. 

Agora quero convidar a orarmos juntos a oração que está no folheto em separado na ordem litúrgica que vocês têm em mãos. 

Que belos...

Que belos e infinitos são Teus nomes, ó Senhor Deus.
Tu fés chamado pelo nome
de nossos desejos mais profundos.
As plantas, se pudessem orar,
invocariam nas imagens das suas flores mais belas
e diriam que tens o mais suave perfume.
Para as borboletas Tu serias uma borboleta,
a mais bela de todas, as cores mais brilhantes,
e o teu universo seria um jardim...
Os que estão com frio Te chamam Sol...
Aqueles que moram em desertos
dizem que Teu nome é Fonte das Águas.
Os órfãos dizem que Tens o rosto de Mãe...
Os pobres Te invocam como Pão e Esperança.
Deus, nome de nossos desejos...
Tantos nomes quantas são nossas esperanças e desejos...
Poema. Sonho. Mistério.

(adaptação de textos de Rubem Alves)

RUBEM, Alves (org.). CultoArte: celebrando a vida - advento/natal/epifania.
Petrópolis: Vozes, 1999.